Duna do Pôr do Sol, que recebe milhares de turistas diariamente em Jericoacoara, perdeu 80% da altura nas últimas décadas, em um processo acelerado pela presença de turistas. Em outras praias cearenses, avanço do mar destruiu estruturas.
A Duna Pôr do Sol, ponto turístico de Jericoacoara, no litoral do Ceará, poderá desaparecer por conta do crescimento do turismo. A duna tem diminuído de tamanho nos últimos anos, em razão também de outros fatores naturais, como os ventos e as marés.
Além da mudança brusca na paisagem, o fim da duna ameaça também causar uma erosão nas praias, já que as “paredes de areia” acabam atuando como escudos, conforme explica o professor Jader Santos, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). O risco é que o mar avance e destrua estruturas, como já ocorreu na praia do Icaraí, também no litoral cearense.
“O que a gente pode alavancar de mais marcante é um processo de incremento e aumento da erosão costeira. A erosão marinha ocorre em função de você não ter mais aquele sedimento que constantemente caía no oceano. Aquela areia constantemente cai no oceano na praia e forma a barreira natural que retarda a ação do mar sobre a praia”, explica o professor.
A Duna do Pôr do Sol recebe esse nome porque, diariamente, ela recebe milhares de turistas que sobem até o topo, principalmente no crepúsculo, para aplaudir o pôr do sol. O movimento das pessoas ocasiona o deslizamento de terra, acelerando o desaparecimento da estrutura natural.
“Quando a gente imagina a quantidade de pessoas que sobem ali para ver o pôr do sol todos os dias, esse pisoteio intensifica o processo erosivo, porque desagregam um pouco os sedimentos e favorece remobilização pelo vento. Então intensifica esse processo”, detalha o geógrafo Jader Santos.
A Duna do Pôr do Sol perdeu 80% da altura nas últimas décadas, num processo acelerado pela presença de turistas. Na década de 1980, ela chegou a ter 60 metros de altura; atualmente, não passa de 12 metros. Em outras praias cearenses, avanço do mar destruiu estruturas.
“Sim, é possível que a duna desapareça. Se a ocupação continuar desenfreada na região de Jericoacoara e no próprio Preá [cidade de Cruz], há sim uma possibilidade grande de não haver mais aporte de sedimentos para surgimento de outras dunas. Ou seja, se forem construídos coisas e interromper esse fluxo, a possibilidade de ter sedimentos para alimentar essa duna é pequena. E por si só ela ser só erodida”, explica o professor.
O rebaixamento da duna e a redução do seu volume tem relação direta com a dinâmica eólica da própria região, mas de acordo com Jader Santos, o fluxo de turistas nela influencia na desagregação da formação da duna.
Jader Santos reforça que é necessário um estudo, um monitoramento para determinar o quanto foi prejudicial o crescimento imobiliário na região para que impactasse tanto na natureza.
“A Vila de Jericoacoara interferiu sim, na dinâmica do fluxo sedimentar das dunas. É preciso fazer um estudo mais detalhado. Como monitoramento para determinar de quanto isso foi impactado e tão associa-se a esses dois produtos: dinâmica natural e instalação da vila e o turismo com relato quando a gente imagina a quantidade de pessoas que sobem ali para ver o pôr do sol todos os dias”.
Info: G1